sexta-feira, 14 de agosto de 2020

 


Crianças brincando desenho Fotografias de Banco de Imagens ...


O Estatuto da Criança e do Adolescente completou 30 anos

 

A Lei 8.069, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou trinta anos de sua aplicação. O ECA foi sancionado em 13 de julho de 1990, ele se divide em duas partes, a parte geral (art.1º a 85) e a parte especial. A Parte Geral se divide em 3 títulos: Disposições Preliminares, Direitos Fundamentais e Prevenção. A Parte Especial se divide em 7 títulos: Política de Atendimento, Medidas de Proteção, Prática de Ato Infracional, Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável, Conselho Tutelar, Acesso à Justiça, Crimes e Infrações Administrativas.

Com o ECA as crianças e adolescentes passaram a ser sujeitos de direitos, merecedores de cidadania e proteção. Com o estatuto surgiu a doutrina da proteção integral[1] que significa garantir às crianças e aos adolescentes todos os direitos especiais à sua condição de pessoa em desenvolvimento. Essa doutrina foi adotada com base na Convenção Internacional dos Direitos da Criança (é um tratado que visa à proteção de crianças e adolescentes de todo o mundo, aprovada na  Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989.)

Desde a criação do ECA muita coisa mudou, mas inúmeros direitos ainda são negligenciados pelo Estado e pela sociedade. Nossas crianças e adolescentes continuam sofrendo violências físicas, psicológicas, sexuais. Direitos básicos tais como moradia, a família, saúde, estão longe de atender adequadamente as necessidades daqueles mais vulneráveis na sociedade.

O ensino que é muito importante para as crianças e adolescentes, porque dele depende o futuro dessa geração também tem deixado muito a desejar. Os números confirmam essa afirmação, vejamos: De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a evasão escolar continua entre jovens na faixa etária dos 15 a 17 anos. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgados em julho/2019 mostram que em 2018, 11,8% dos jovens nesta faixa etária estavam fora da escola, isso representa quase 2 milhões e grande parte deles vem de famílias de baixa renda. Além disso, há milhares de crianças e adolescentes que estão na escola sem aprender. Em 2018, 3,5 milhões de estudantes de escolas estaduais e municipais foram reprovados ou abandonaram a escola no Brasil. Um de cada quatro jovens de 16 anos não concluiu o Ensino Fundamental em 2018. O que contribui muito para esses problemas são a violência, a gravidez na adolescência, uso de bebidas alcoólicas e drogas, necessidade de assumir responsabilidades, tais como trabalhar para ajudar no sustento da família. Os números são alarmantes, é um exército de pessoas despreparadas para entrar futuramente no mercado de trabalho. É preciso ampliar os recursos financeiros e humanos para reverter esse quadro. Dados da Unicef informa que para cada dólar investido na 1ª infância, por exemplo, há um retorno de 7 até 10 dólares. Além de recursos, o ensino precisa se modernizar para atrair esses jovens. Um ensino baseado somente em matérias tradicionais já não atinge as necessidades que esses jovens precisam para entrar no mercado de trabalho, o ensino precisa se modernizar, desenvolver nos jovens competência essenciais tais como comunicação, capacidade de resolver problemas, inteligência emocional, criatividade, liderança, enfim, preparar o jovem para viver na sociedade atual.  

Quanto a gravidez na adolescência tem surgido esse debate, mas ainda de forma muito tímida.  Sobre  este tema surgiu uma mudança no ECA em 2019, com a inclusão do artigo Art. 8º-A com a seguinte redação:  Fica instituída a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, a ser realizada anualmente na semana que incluir o dia 1º de fevereiro, com o objetivo de disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019). Anualmente cerca de 18% dos brasileiros nascidos são filhos de mães adolescentes. Em números absolutos isso representa 400 mil casos por ano[2]. Geralmente as meninas de baixa renda são as mais prejudicadas já que acabam abandonando os estudos para cuidar dos filhos, com isso, a longo prazo, não obtém qualificação para ocupar os melhores cargos e consequentemente proporcionar melhor qualidade de vida para si e para seus filhos. A porcentagem de adolescentes que não frequenta mais a escola após ter engravidado é de 68,3%, elevando-se para 85,7% no terceiro trimestre de gravidez.[3]

A gravidez na adolescência é uma realidade muito dura, ela cobra das meninas e das adolescentes uma maturidade que elas ainda não têm, tão necessária para os cuidados com elas e com os filhos. Na prática, os meninos não se prejudicam tanto por uma questão cultural, já que a sociedade ainda vê na mulher a única responsável por cuidar da prole. A gravidez na adolescência, como visto, tem números alarmantes e precisa ser discutida entre as famílias, escolas e entre os jovens sem tabu.

A violência dentro e fora de casa também contribui para a violação de direitos dos menores. Muitas crianças acabam abandonando seus lares e indo viver nas ruas fugindo de agressões sofridas es e acabam caindo na violência das ruas. Sobre a violência sexual, no dia 18 de maio é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, instituído pela Lei Federal nº 9.970 de 2000. A data busca sensibilizar e informar a sociedade para ações que garantam à crianças e adolescentes o direito ao desenvolvimento de sua sexualidade de forma segura, livre do abuso e exploração e ganha ainda mais importância quando são verificados os dados do Disque Direitos Humanos, o Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Violência sexual contra crianças e adolescentes correspondeu a 11% dos 159 mil registros feitos pelo canal do Governo, ao longo de 2019. Ao todo, no último ano, foram 17 mil ocorrências desta natureza. Ainda de acordo com o Ministério, em 73% dos casos, o abuso sexual ocorre na casa da própria vítima ou do suspeito e é cometido por pai ou padrasto em 40% das denúncias[4]. Precisamos acabar com a violência contra as crianças e adolescentes, precisamos criar um ambiente de segurança e paz para que esses jovens se desenvolvam de forma sadia.

Outro ponto importantíssimo que não podemos deixar de citar é o grande número de automutilação e até suicídio entre crianças e adolescentes, situação que muitas vezes é acobertada. Nossos jovens têm sofrido depressão, falta de perspectiva no futuro e desesperança. O uso do álcool e drogas também tem sido muito utilizado entre os jovens, gerando, inclusive, dependência e agravando quadros suicidas. Procurar ajuda médica e psicológica é fundamental quando for identificado pensamento suicida.

A reboque do ECA surgiram no Brasil outras leis reconhecendo direitos das crianças e adolescentes, podemos indicar a Lei da Alienação Parental - 12.318/2010; a Lei 13.010 de junho de 2014, conhecida como Lei do Menino Bernardo ou Lei da Palmada, que altera a Lei 8.069 (ECA) para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem castigos físicos, artigos 18-A e 18-B; Lei nº 13.811/2019, de 12 de março de 2019, proibição de casamento antes dos 16 anos.

O ECA é uma ótima lei já que prevê proteção integral à criança e ao adolescente, bem como elenca diversos direitos, mas lei sem efetividade não adiante.  A sociedade e os poderes precisam se unir para proporcionar às crianças e adolescentes os direitos elencados no estatuto, assim ganham os jovens e ganha a sociedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1]  Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

[2] https://amb.org.br/noticias/gravidez-na-adolescencia/; Data da consulta: 14/08/2020, 11:35.

[4] https://www.extraclasse.org.br/; Data da consulta: 14/08/2020, 12:07.

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